quinta-feira, 19 de abril de 2012

Do outro lado da linha você nem imaginava que eu estava chorando. Eu derramava lágrimas e engolia a voz de choro, ficava em silêncio por alguns segundos, mas você pensava que meu silêncio era problema na ligação.
Naquela noite eu tive pesadelos. Eu revirei na cama a madrugada inteira, acordei chorando e pedindo por socorro, por palavras que me socorressem, carinhos que me confortassem. Por uma cama, um sofá familiar. Eu corri, fui longe. Fui para o lugar que eu não deveria ir. As palavras, o lugar familiar, os carinhos...O socorro que eu desejava estavam ali.
Olhou para mim como se eu fosse um espírito. Lá estava eu, às quatro da manhã batendo em sua porta e pedindo ajuda. Acomodou-me em seus braços. Que falta fazia, que saudade eu sentia. Não precisava perguntar o que tinha acontecido, nosso silêncio bastava. A sensação do alivio de estarmos ali calava qualquer pergunta, qualquer resposta.
Acomodamos-nos. Dormi sentindo seu cheiro, quem sabe a mistura do nosso cheiro, ou até a mistura do nosso cheiro com o lugar. Mas por que aquele lugar havia se tornado familiar? Aos poucos eu deixei isso acontecer. Agora aquele lugar era meu refúgio. E ele também.
Era tudo tão errado, mas era tudo o que eu desejava. Do que podíamos chamar isso?
Acordei com o celular vibrando. Olhei o nome na tela. Ainda era cedo. Fiquei me perguntando o que tinha acontecido, quantas horas tinham se passado e onde o meu refúgio estava? Minha mente dizia que tudo tinha acontecido, que lá fora alguém me procurava.
Ao meu redor tudo parecia normal. Pessoas indo para o trabalho. Crianças indo para escola. O trânsito de todo dia estava lá, eu podia ver pela janela do meu quarto.
Até onde a minha imaginação havia me levado?
Abri a porta e ele estava na calçada. Pediu desculpa por ter acordado mais cedo.
E você? Você ainda estava me ligando. Infinitas ligações recusadas.
Meus olhos fixos no dele, perguntavam: O que foi tudo isso?